No governo, as relações administrativas são regidas por uma combinação lógica de fatores. Se um ministro executa movimentos que não coincidem com a vontade do chefe, ele é mandado embora. Se o presidente ordena algo que destoa do pensamento do auxiliar, aí é o ministro quem pede para sair. Lula passou por cima de Simone Tebet. Com o pé quebrado, a ministra do Planejamento poderia ter elevado a própria estatura. Preferiu reduzir o pé-direito de sua pasta.
Como previsto, Lula impôs a Simone Tebet a nomeação de Marcio Pochmann, economista de estimação do PT, para a presidência do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em privado, a ministra queixou-se do atropelo. Diante dos gravadores e dos microfones, Simone mancou: “Agora eu sei o nome dele”, disse a ministra, referindo-se a Pochmann. “Terei o maior prazer em atender ao presidente Lula. Não faço pré-julgamento”.
Lula caprichou no desapreço. Na forma, incumbiu o petista Paulo Pimenta, chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, de anunciar a escolha do auxiliar que Simone não conhece e não desejava. No conteúdo, colocou à frente do IBGE, num instante em que o órgão ainda digere os números do Censo, um economista que já passou pelo Ipea, deixando um rastro de intervencionismo ideológico. De resto, Pochmann tem o hábito de se assustar com fantasmas errados.
O novo presidente do IBGE chama as reformas previdenciária e trabalhista de “deformas”. Já escreveu nas redes sociais que, ao implantar o Pix, o Banco Central deu “mais um passo na via neocolonial”. Anteviu que, “na sequência vem a abertura financeira escancarada com o real digital e a sua conversibilidade ao dólar.” O que deixará o Brasil no jeito para virar um “protetorado dos EUA”. A esse ponto chegamos. Enquanto a ministra do Planejamento manca, o IBGE será chefiado por um personagem que vê o PIX como um boi da cara preta ianque, com chifres neoliberais.
Coluna de Josias de Souza – UOL