A bichectomia se tornou moda na internet quando muitas famosas e influenciadoras começaram a fazê-la para fins estéticos. A ideia era deixar o rosto mais fino. Contudo, ninguém imaginava que, com o passar dos anos, o resultado seria rostos ‘derretidos’ com aparência cadavérica.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da regional de São Paulo, José Octavio Gonçalves de Freitas, alerta que a finalidade do procedimento não é estética. “Não é uma cirurgia estética. É indicada, e raramente, para quem tem alteração na bola de bichat, que é um local de gordura da bochecha. Esse boom de mulheres fazendo o procedimento é um movimento comercial”, disse.
A empresária cuiabana Luciana Felix, 40, disse que fez a bichectomia há três anos e que, oito meses depois, já viu seu rosto “despencar”. “Fiz preenchimento com ácido, deu uma disfarçada, mas sempre volta a ficar flácido”, conta. Ao reclamar com a dentista responsável pelo procedimento, ouviu que estava “ficando velha”. “Ela disse que não tinha culpa de eu envelhecer”, diz Luciana, que depois desenvolveu um quadro de depressão pelo baque com o efeito da bichectomia.
Durante o Sem Filtro, a jornalista Cris Guterres falou sobre o despreparo dos profissionais que realizam os procedimentos e também destacou uma pressão estética que recai, sobretudo, nas mulheres.
É uma pressão estética tão grande sobre nós. Essa pressão faz com que a gente perca alguns limites do que é ou não aceitável e saudável. Nós vemos todos os anos um número imenso de pessoas que são vítimas e se tornam reféns de profissionais que são despreparados e só querem ganhar dinheiro realizando cirurgias. Cris Guterres
A influenciadora Maíra Medeiros, dona do canal do YouTube “Nunca Te Pedi Nada”, fez bichectomia porque mordia muito a parte interna da bochecha – que pode ser uma indicação para a realização do procedimento. Ela também está sofrendo com a flacidez do rosto.
Para Universa, Maíra reclamou que os médicos não são claros sobre os efeitos da cirurgia a longo prazo. “Não sou contra, mas gostaria de ter tomado a decisão sabendo que poderia acelerar o processo de flacidez do meu rosto. Com isso em mente, ponderaria se valeria a pena”, disse.
A influenciadora digital Carol Dias, 23, fez bichectomia aos 17, depois de sofrer bullying na escola. “Era uma insegurança minha”, disse para Universa.
“O profissional que fez falou que não teria nenhum problema, porque a Bola de Bichat era uma glândula, usada apenas para os bebês mamarem. Era como se fosse um dente do siso, sem serventia”, conta.
Ela gostou do resultado pós-cirúrgico, mas com o passar dos anos percebeu que a pele do rosto estava mais flácida, quase como se estivesse derretendo. “Me arrependo e me sinto mal, às vezes, acredito que envelheci bastante”, diz Carol.
É irreversível
Segundo José Octávio Gonçalves de Freitas, as consequências do procedimento podem ser hematomas, lesões graves nos nervos e alteração nos canais que levam a saliva para a boca. E não tem volta. O processo é irreversível. “O conserto estético é desastroso, pois não adianta apenas injetar gordura no local. O rosto não volta a ficar igual”, explica.
E tentar contornar as consequências da flacidez, não é barato. “Os procedimentos estéticos custam bem mais que o valor da bichectomia”, diz Maíra. Ela estima que vai gastar cerca de dez vezes com a dermatologista do que o valor investido na cirurgia.
Carol Dias, diz que, neste momento, não tem dinheiro para investir em novos procedimentos. “Tenho que me contentar com o que tenho. É um processo pra mim. Já fiquei bem triste. Hoje em dia tento aceitar e conviver”, diz.
Semayat Oliveira: ‘Não precisamos ser contra procedimentos, mas tem que ser feito com cuidado’
A jornalista Semayat Oliveira destacou durante o Sem Filtro também a questão financeira desses procedimentos. Para ela, às vezes mulheres acabam entrando em um ciclo sem fim de procedimentos para corrigir outros que foram feitos anteriormente.
“Você cria um procedimento porque está na moda um procedimento X, depois, existem outros procedimentos que nascem para reverter aquilo que foi criado lá atrás. Acho que tem todo um enredo financeiro que nós mulheres acabamos, muitas vezes, entrando nesse ciclo sem fim e às vezes é difícil reverter. Às vezes é difícil pagar um novo procedimento, então acho que a gente precisa ter muita parcimônia de tentar olhar para nós mesmas”, disse.
Não precisamos ser contra procedimentos, mas tem que ser feito com cuidado e a gente tem que avaliar o momento, senão caímos em cilada atrás de cilada. Semayat Oliveira
Por Universa – UOL