O racha no PCC (Primeiro Comando da Capital) mexeu no patrimônio dos parentes de ex-líderes expulsos recentemente da facção. Os ex-integrantes da cúpula começaram a devolver à organização todos os bens adquiridos com dinheiro da “família”, como o grupo é chamado internamente.
Os excluídos são os presos Roberto Soriano, 50, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, 49, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, 45, o Andinho. O trio foi acusado de traição e calúnia pelo PCC, por chamar de delator o líder máximo da facção, Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola.
A lista de devolução patrimonial é extensa e pode incluir ônibus do transporte coletivo, carros, imóveis, postos de combustíveis, adegas, salões de beleza e clínicas de estética comprados principalmente com dinheiro do tráfico e usados na lavagem de dinheiro da facção.
Caso os excluídos tenham adquirido alguns desses bens com recursos da “família”, são obrigados a entregar tudo à facção, sem direito a apelação. Os pontos de vendas de drogas, mais conhecidos como “biqueiras”, também têm de ser devolvidos.
Já foram cortadas as mesadas e ajudas de custo para as despesas com passagens aéreas e hospedagens durante as viagens às cidades onde os excluídos estão recolhidos em presídios federais, longe de São Paulo. O PCC também deixou de pagar advogados aos três.
A coluna apurou que parte das “biqueiras” e de bens ligados a um dos excluídos, na região de Campinas (SP), foi devolvida ao PCC. Mas há informações de que o preso tem muitos apoiadores nas ruas e alguns deles estariam resistindo em cumprir a ordem da facção.
Motorista de aplicativo
A reportagem apurou ainda que o parente de outro excluído, morador na zona leste paulistana, já vem enfrentado dificuldade financeira e começou a trabalhar como motorista de aplicativo para poder sustentar a família.
O estopim do racha histórico no PCC foi uma conversa gravada entre Marcola e policiais penais na Penitenciária Federal de Porto Velho, em 15 de junho de 2022. Segundo a Polícia Federal, Marcola atribuiu a Tiriça uma prática de atentados contra agentes públicos e o chamou de psicopata.
O áudio foi usado no júri que condenou Tiriça a 31 anos e seis meses de prisão pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), morta a tiros em maio de 2017, na cidade paranaense de Cascavel.
Tiriça, Vida Loka e Andinho tiveram acesso à gravação e chamaram Marcola de delator. Os três decidiram expulsá-lo da facção e o juraram de morte. Mas a “sintonia final” (cúpula do PCC) ouviu o áudio e concluiu que Marcola não fez nada de errado.
Os integrantes da “sintonia final” divulgaram um salve (comunicado) para os faccionados presos e em liberdade informando que Tiriça, Vida Loka e Andinho estavam excluídos da organização e jurados de morte. Essa é uma das maiores crises do PCC em 30 anos de existência.
Por UOL