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Para Silvio de Abreu, novelas da Globo ficaram ‘amadoras’: ‘Quinta categoria’

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Aos 81 anos, curtindo uma aposentadoria (talvez provisória), Silvio de Abreu quase não assiste mais a novelas. Afinal, esse foi seu ofício durante quase seis décadas, como ator e, principalmente, como autor. Escreveu obras do quilate de Guerra dos Sexos (1982), Cambalacho (1986), Rainha da Sucata (1990), A Próxima Vítima (1995), Belíssima (2005)… E ainda comandou a Teledramaturgia da Globo nos seis anos que antecederam a pandemia. 

A pedido do Notícias da TV, contudo, ele abriu uma exceção e viu alguns capítulos de Garota do Momento, Volta por Cima e Mania de Você. “E o que reparei? Que tudo é inferior ao que era feito anteriormente”, dispara.

A seguir, os principais trechos de entrevista exclusiva em que Abreu fala do atual momento das novelas da Globo, das transformações pelas quais a TV aberta vem passando, dos erros que levaram Mania de Você ao fracasso e de sua expectativa para o remake de Vale Tudo, grande aposta da emissora para 2025, quando completa 60 anos:

“São vários fatores [para a queda de audiência]. Primeiro é que, na pandemia, as pessoas começaram a descobrir o streaming. E essa ideia de você parar tudo o que está fazendo numa determinada hora para assistir novela também caiu. Só as pessoas que não têm muito o que fazer na vida é que vão todo dia, àquela hora, sentar para assistir.”

“As razões pelas quais as audiências estão baixas têm que ser vistas em uma análise mais ampla de mercado, não artisticamente. Artisticamente, eu acho que a coisa fica muito clara. Eu não tenho visto as novelas, mas, a partir da hora que você me convidou para falar disso, eu fui assisti-las. As três novelas que estão no ar. E o que reparei? Que tudo é inferior ao que era feito anteriormente.”

Primeiro, os investimentos financeiros devem ser muito menores. Eu não tenho ideia de quanto, mas muito menores, porque os cenários são muito ruins. Os cenários que você vê hoje nas novelas, exceto a das nove, são cenários de novelas que os outros canais faziam, bem inferiores. Os cenários são de novelinha de quinta categoria, são só paredes.

“Você não vê [cena] externa, quase não tem. É tudo dentro de um cenário, é tudo na cidade cenográfica. E as cidades cenográficas são muito inferiores às que a gente tinha antes. A iluminação é chapada, não tem nenhum estudo maior de iluminação, é tudo muito lavado, você não tem um degradê de luz pra criar um clima dentro de uma cena.”

‘Novelas não têm história e sofrem censura’

“Os figurinos são a mesma coisa. Me pareceu tudo muito simplesinho, muito trivial. Não tem nada que seja uma coisa interessante de assistir ou que vá causar algum comentário, algum ruído. Além dessa parte toda, você tem um texto que é muita cena de bate-papo, não tem uma história.”

“Atualmente, o que as novelas não têm é uma história. Elas têm cenas. Uma cena em que as pessoas falam um monte de coisas, e vai para outra cena. Não tem uma história que engancha, que vai engatando uma cena na outra, que vai formando uma curiosidade, uma cadeia, uma emoção, e que você não pode deixar de assistir amanhã. Isso não tem mais.”

“Quando a gente fazia novela nos anos 1980, 1990, 2000, elas tinham uma história, e os personagens serviam àquela história. As novelas hoje são pessoas falando, falando coisas triviais: ‘Não vou na festa’, ‘vou na festa’, ‘não quer casar com fulano’, ‘não quer casar com beltrano’. Antes, talvez os temas até fossem parecidos, mas a qualidade do que se falava, a profundidade que os autores tentavam atingir, era muito maior.”

Além disso, você tem um elenco e você não reconhece ninguém. E esse alguém que você não conhece também não tem experiência. Então, a cena não cresce. O diálogo é medíocre, a atuação é medíocre, e quando você coloca um ator de mais experiência, ele diminui a capacidade dele pra não entrar em confronto com o outro que é pior. Porque representar é um jogo, você atira a bola, e o outro atira de volta para você, e você cria um clima baseado em emoção.

‘Produção da Globo hoje é amadora’

“Quando uma empresa como a Globo manda embora todo o seu estafe e só contrata gente que está começando, o resultado só pode ser amador. É o que está acontecendo. Por quê? Como era a TV Globo? A Globo era como uma grande universidade, um aprendia com o outro.”

“Desde que ela começou, em 1965, as pessoas foram repassando o seu conhecimento umas para as outras. Eu aprendi com o Cassiano [Gabus Mendes, 1929-1993], com a Janete Clair [1925-1983]. O Gilberto Braga aprendeu com a Janete Clair. O Carlos Lombardi e o João Emanuel Carneiro aprenderam comigo.”

A gente tinha uma curadoria de texto que lia todos os capítulos e opinava sobre aquilo. Não é que interferia para mudar. Opinava quando via algum ruído que poderia provocar alguma coisa errada dentro da narrativa da novela. E hoje não tem mais isso.”

“As pessoas entregam os capítulos, e [a Globo] só verifica se tem alguma coisa politicamente incorreta. Então, tem muito mais uma censura sobre o que é ou não apropriado se dizer para não ofender fulano, ciclano, beltrano ou essa ou aquela religião ou etnia. Não tem um acompanhamento de dramaturgia.”

E esse acompanhamento de dramaturgia é essencial, porque muitas vezes você tem um autor experiente como o João Emanuel Carneiro, de comprovado talento, e ele pega caminhos errados, como pegou, e aí não tem conserto, a não ser que você tenha uma curadoria especializada pra dizer: ‘Tá errado aqui, tá certo ali, vamos por aqui ou vamos por ali’. Não é que essa pessoa sabe mais. É que essa pessoa, não estando envolvida com o processo criativo, terá uma visão muito mais clara. O autor não vai saber ver o seu erro.

Com informações de Notícias da TV

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A revista eletrônica Seridó 360 foi criado no inicio do ano de 2018, pelo estudante de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, das Faculdades Integradas de Patos/PB, Iasllan Araújo, com o intuito de levar às notícias do Seridó Potiguar a uma única revista – esta.

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