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Para esconder fiasco de Lula, grande mídia trabalha como se Governo Bolsonaro não tivesse acabado

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No último fim de semana, o pagador de impostos que abasteceu seu carro nas grandes cidades se deparou com mais uma triste notícia neste ano: o preço da gasolina no varejo disparou. No interior do país, os produtores rurais voltaram a enfrentar o pesadelo das invasões de fazendas por grupos de sem-terra, desde o anunciado “Carnaval vermelho”. A economia dá sinais de que a engrenagem emperrou antes do previsto. Em Brasília, ao menos dois ministros cambaleiam sob suspeitas antes de o governo completar os cem primeiros dias.

Não foi esse o retrato que o mesmo brasileiro encontrou nas manchetes da imprensa tradicional. Um dos destaques, por exemplo, era a fake news do presidente Luiz Inácio Lula da Silva segundo a qual o Produto Interno Bruto (PIB) “cresceu nada” no ano passado — o avanço foi de 2,9%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Não houve repúdio de nenhuma “agência de checagem”. A imprensa destacou a mentira.

Com o aval do consórcio dessa velha mídia, Lula tem executado diariamente o que anunciou em fevereiro, durante a posse de Aloizio Mercadante no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social): “As narrativas, mesmo que mentirosas, valem mais do que verdades ditas muitas vezes”, disse.

Na ocasião, ele tentava reescrever outra parte da história: o banco foi pilhado nos governos do PT e repassou bilhões para financiar obras em governos e ditaduras de esquerda — o caso mais simbólico foi o calote de Cuba no Porto de Mariel, cuja dívida tem como garantia caixas de charutos. “Este banco foi vítima de difamação muito grave durante o último processo eleitoral”, afirmou Lula. “Vivemos nos últimos quatro anos um processo de mentira tresloucada.”

Não é só Lula que mantém a fixação em Jair Bolsonaro, citado em um a cada três discursos ou entrevistas. As redações do consórcio também. Desde sábado 4, nenhum assunto ocupa tanto espaço na mídia quanto as joias apreendidas pela Receita Federal, em outubro de 2021. As joias foram um presente do governo da Arábia Saudita à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, depois de uma visita ao Oriente Médio. Ela não chegou a recebê-las, porque as caixas com o material foram retidas pela alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

O governo brasileiro argumenta que as joias, com valor estimado em R$ 16 milhões, seriam destinadas ao acervo da Presidência da República, o que tradicionalmente acontece ao longo dos mandatos presidenciais. O acervo documental privado dos presidentes é regulamentado pela Lei 8.394, de 1991, no governo Fernando Collor de Mello, e pelo Decreto 4.344, de 2002, na gestão Fernando Henrique Cardoso. Há ainda um acórdão de 2016 (número 2.255) do Tribunal de Contas da União (TCU).

Dos mesmos criadores do “despiora” da economia e da profusão de manchetes adversativas, agora surgiu a “reoneração” dos combustíveis e as “viroses” carnavalescas — a covid sumiu

O acervo presidencial, aliás, já foi alvo de apreensão, em 2016, pela Polícia Federal. Os agentes fizeram buscas sobre 133 itens valiosos numa sala-cofre da agência do Banco do Brasil, em São Paulo, recebidos por Lula. As caixas estavam guardadas havia cinco anos e continham relógios, espadas, moedas e peças decorativas.

No episódio das joias para Michelle, a mídia tradicional diz que há indícios de descaminho — crime tributário similar ao contrabando, mas quando envolve produtos legais. Sem nenhuma prova, o ministro Paulo Pimenta (Secom) disse que seriam propina pela privatização de uma refinaria da Petrobras por um fundo árabe. Outro ministro, Flávio Dino (Justiça), colocou a Polícia Federal para investigar.

É evidente que, se houve crime de descaminho, os responsáveis devem ser punidos, como qualquer cidadão que opta pela fila de “nada a declarar” para driblar a fiscalização nos desembarques internacionais. Mas não deve ser descartado que o caso pode configurar um simples entrave alfandegário, passível de ser solucionado burocraticamente, já que o destino do material seria Brasília.

A resposta oficial de Bolsonaro, em nota apresentada pelo advogado Frederico Wassef, foi a seguinte: “O presidente, agindo dentro da lei, declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo, recebidos em viagens, não existindo qualquer irregularidade em suas condutas. Estão tirando certas informações de contexto, gerando mal-entendido e confusão para o público. Como jamais existiu qualquer escândalo ou um único caso de corrupção durante os quatro anos de governo, buscam hoje, a qualquer custo, criar diversas narrativas, que não correspondem à verdade, em perseguição política ao presidente”.

O fato é que caixas de joias para o casal Bolsonaro retidas pela Receita Federal serviram de munição para centenas de manchetes durante uma semana. Para os analistas políticos do consórcio de mídia, nem a economia patinando, o terror organizado pelo MST em fazendas produtivas, como as da empresa Suzano, ou ministros em páginas policiais são mais relevantes para o país do que o batizado “escândalo das joias” — ou “joiasgate”. Um colunista chegou a comparar o caso com o triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia.

Outra artilharia similar ocorreu por um mês com os gastos com cartões corporativos do governo, um verdadeiro baú de notas fiscais que podem ser pinçadas e publicadas com qualquer verniz editorial.

No caso dos cartões, um dado relevante: Bolsonaro desembolsou R$ 32 milhões durante o mandato (valores corrigidos pela inflação). No primeiro governo, Lula gastou R$ 59 milhões. A farra com os cartões derrubou dois ministros do petista em 2008. Os seguranças dos familiares e do próprio presidente gastavam sem rédeas.

O fato de Lula ter gastado quase o dobro, contudo, não importa para a velha imprensa, que tratou o pagamento de R$ 10 mil em quatro anos numa padaria carioca como escândalo; ou os R$ 8 mil numa sorveteria. O jornal O Estado de S. Paulo conseguiu encontrar até notas ficais de 6 quilos de picanha pagos com o cartão.

A legislação diz que o uso do cartão corporativo deve ser com despesas eventuais, por exemplo, em viagens, que exigem pagamento à vista — os cartões substituíram os cheques. No caso do presidente e de alguns órgãos de segurança e inteligência, as despesas podem ser sigilosas.

A disparidade entre a realidade do país e a cobertura dos primeiros meses do governo é gritante, conforme o quadro acima. O Lula 3, aliás, também inaugurou um novo capítulo no Manual de Redação da mídia. Dos mesmos criadores do “despiora” da economia e da profusão de manchetes adversativas, agora surgiu a “reoneração” dos combustíveis e as “viroses” carnavalescas — a covid sumiu.

Mas se aplica também às miudezas do noticiário. Na quarta-feira 8, por exemplo, a informação de que o filho caçula de Bolsonaro, Jair Renan, vai trabalhar num gabinete no Senado ofuscou a declaração grave do ministro Luiz Marinho (Trabalho) contra a empresa Uber, que emprega milhares de pessoas.

“Se a Uber e as outras plataformas não gostarem de um processo de formalização, eu sinto muito”, disse. “Tem de ter regras, controle para não ter excesso de jornada.”

Não foi a primeira vez. No mês passado, ele teve a brilhante ideia de sugerir que os Correios substituíssem o gigante do transporte por aplicativos. “Posso chamar os Correios, que são uma empresa de logística, e dizer para criar um aplicativo e substituir a Uber”, declarou. “Aplicativo se tem aos montes no mercado. Não queremos regular lá no mínimo detalhe. Ninguém gosta de correr muito risco, especialmente os capitalistas brasileiros.”

Em 2021, quando se recuperava dos lockdowns da pandemia, a Uber divulgou um relatório no qual dizia gerar R$ 36 bilhões de valor agregado para a economia brasileira — soma do dinheiro repassado aos motoristas e o impacto na produção e no mercado de carros, oficinas e seguradoras. A empresa tem mais de 1 milhão de motoristas cadastrados.

Presos políticos

Nenhum exemplo é tão simbólico da cortina de fumaça — ou criação de narrativas, segundo Lula — como os mais de 600 presos que permanecem em celas da Papuda (homens) ou da Colmeia (feminino), em Brasília, depois dos atos de 8 de janeiro. Até hoje, as autoridades que investigam o lamentável vandalismo contra prédios públicos não conseguiram tipificar com exatidão nem individualizar as condutas dos presos.

Na semana passada, Oeste publicou a segunda reportagem de capa sobre os esquecidos do 8 de janeiro. O texto traz perguntas há dois meses sem respostas: como justificar a prisão em flagrante dos mais de 1,3 mil homens que a Polícia Federal capturou nas cercanias do quartel? Por que centenas de pessoas seguem presas injustamente? Pior: os nomes e muitos dos rostos foram estampados pela mídia como terroristas e golpistas. Famílias em cidades no interior do país foram expostas à humilhação do uso de tornozeleiras eletrônicas. São vidas estraçalhadas num processo kafkiano.

Paralelamente, um grupo de parlamentares tenta instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o antes e o depois da depredação na Praça dos Três Poderes. Não houve apoio em nenhum editorial dos grandes jornais. Pelo contrário, a maioria dos articulistas argumentou que se trata de uma artimanha bolsonarista para desestabilizar o início do governo Lula.

Se o petista quiser, o Lula 3 nem precisa começar. O consórcio da imprensa prefere continuar acompanhando os passos de Jair Bolsonaro.

Por Revista Oeste

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