Laura tinha 10 anos quando começou a usar máscara pelos mesmos motivos que todos nós: se proteger da covid-19 e impedir a disseminação do vírus.
Agora, depois de quase 3 anos e do início de sua puberdade, a máscara ocupou um outro lugar na vida dela: o de um objeto que esconde seu rosto e a ajuda a lidar com inseguranças sociais.
Sua irmã conta que, mesmo em um passeio à praia, Laura permaneceu de máscara — inclusive para entrar no mar.
Em ocasiões como essa, o sol marca o contorno da máscara no seu rosto, tornando ainda mais difícil que ela deixe de usar o acessório em público.
A história da jovem ressoa nos relatos de centenas de jovens nas redes sociais, em especial adolescentes, que dizem ter dificuldade de ficar sem máscara fora de casa por vergonha de mostrar o próprio rosto.
Em muitos casos, eles são alguns dos únicos alunos da classe que continuam a utilizar o acessório rigorosamente, e sofrem bullying de colegas que questionam o uso e até tentam retirá-lo à força.
Outros dizem que a máscara os ajuda a passar despercebidos e diminuir as interações sociais, inclusive chamando menos atenção dos professores.
Alguns adolescentes dizem querer trocar de colégio para que seus colegas, que já os conheceram de máscara, nunca cheguem a ver seus rostos.
Marimpietri explica que a pandemia e a reclusão forçada do contato social foram agravantes dessa questão.
“Um adolescente que entrou na pandemia com 13 anos e agora tem 15, por exemplo, se modificou do ponto de vista físico de maneira muito substancial. Muitos já estavam inseguros sobre como iriam se apresentar para o outro do ponto de vista imagético e comportamental — e a máscara figura como um anteparo simbólico de proteção, como se a autoimagem estivesse resguardada por uma fronteira que me protege do olhar do outro.”
Ele acrescenta que os problemas com a imagem corporal foram inflados na pandemia, quando nosso recurso de interação social era, muitas vezes, digital.