A prometida chuva do fim de semana não foi suficiente para tirar o ânimo de quem teve suas casas invadidas pela água em várias regiões do Rio Grande do Sul. No bairro Fortuna, em Sapucaia do Sul, moradores se empenharam para remover o pouco que sobrou após a enchente.
Arrastando pelas ruas ainda alagadas, eles usavam a força do próprio corpo para retirar geladeiras, fogões, motocicletas.
Os bairros Fortuna e Carioca estão debaixo da água e sem previsão de melhora significativa. Segundo os meteorologistas, a inundação ainda pode levar dias para escoar.
Para a população, um misto de reinício e desânimo, coragem e medo. Júlia Azevedo, estudante de odontologia, e a família voltaram para a residência em Sapucaia do Sul. Com a ajuda dos parentes, viram o que se salvou e limparam dentro e fora da casa.
“Agora é começar tudo de novo. É um sentimento de ter as mãos atadas”, definiu.
Na tarde de sábado (11/5), enquanto Cliciane de Souza da Silva e o marido Diorgenes Gonçalves Menezes puxavam uma geladeira, outros moradores eram vistos arrastando partes das casas devastadas pela força das águas. Moradores do local há 13 anos, eles contam nunca terem visto nada parecido no bairro.
“Subimos tudo o que podíamos, mas foi em vão. A água foi quase até o forro. Tivemos que sair de barco. Nós primeiro fomos para uma cada abandonada perto do Zoológico. Depois, acabei mandando parte da família para Palmares do Sul. O mais terrível de tudo foi ficar três dias sem ter notícia da minha neta. Ainda bem que nos salvamos, todos”, relata Cliciane.
Bianca Valichesky, moradora do bairro Erechin, conta que saiu com a água no pescoço. Móveis, eletrodomésticos, tudo ficou para trás. Ela e o companheiro conseguiram salvar as duas motos da família e têm pouca esperança de tentar resgatar o automóvel e a geladeira.
Com chuva e reclamações sobre o Poder Público
Apesar das perdas, Bianca comemora que o filho de 5 anos está bem, e será sua principal motivação para enfrentar os próximos momentos: “O que importa são os nossos filhos. É o que faz a gente caminhar para frente. Ele só pergunta dos ursos dele”.
Questionada sobre auxílio do poder público neste momento de resgates e recuperação, ela diz: “Não vi ninguém por aí, só o povo ajudando o povo. Quando chegou a Guarda Municipal para ajudar, acabou só ajudando bicho, nós já tínhamos nos salvado”.
Sapucaia do Sul é uma das cidades que está declarada como em estado de calamidade pública, viabilizando a redução na demora do envio de repasses públicos.
A prefeitura municipal informou que a partir deste domingo (12/5), o Ginásio Kurashiki será o centro logístico e está preparado para receber doações e distribuí-las às pessoas afetadas pela enchente.
Por Metrópoles