O conflito na Ucrânia, responsável por disparar a cotação do petróleo em nível mundial, o que acabou elevando o preço dos combustíveis no Brasil, chegou às passagens aéreas. A Folha apurou que Gol, Latam e Azul preparam aumento no valor das passagens aéreas ainda neste mês de março. A medida pega as companhias aéreas em um momento delicado, interrompendo o movimento de recuperação do turismo doméstico iniciado no último trimestre do ano passado.
As aéreas foram um dos setores mais impactados pela Covid-19, por causa das restrições sanitárias que impediram ou limitaram os deslocamentos, além da ampliação do home office, que fez desabar a demanda do mercado corporativo —viagens a negócio representavam um terço da receita das aéreas.
“Toda a indústria, não só a Latam, responde a esse tipo de crise com duas medidas: a primeira é um aumento das tarifas e, a segunda, uma redução da oferta. Uma em função da outra”, disse à Folha Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil. Segundo ele, o movimento de aumento das tarifas já vem desde o mês de janeiro, porque o ano começou com o petróleo mais alto, o que se acentuou nas duas últimas semanas por causa da guerra.
“A gente vai ver, sim, tarifas mais altas e isso vai desacelerar a recuperação do setor, que já vinha caminhando depois do impacto muito forte do ano passado, por causa da pandemia”, diz Cadier. “A gente agora posterga a recuperação completa da quantidade de voos”.
A empresa está ajustando a oferta, principalmente a partir do segundo trimestre. “Quanto às tarifas, ainda não temos de quanto vai ser o aumento, porque vai depender do patamar em que o preço do petróleo vai estacionar”. Por volta das 14h30 desta sexta-feira (11), o barril do petróleo tipo Brent era cotado a US$ 112,11, em alta de 2,78%. Mas no último dia 6 chegou perto de US$ 140 o barril.
Nas palavras de um alto executivo do setor aéreo, ninguém sabe ainda quanto tempo a guerra vai durar e quanto tempo em que o petróleo vai ficar neste patamar, o que faz com que as previsões sejam voláteis. Ainda há uma demanda de viagens de lazer reprimida, e o valor das tarifas não subiu significativamente até agora. Mas, segundo ele, o aumento no preço da tarifa é “inevitável”.
A concorrente Gol está em período de silêncio, porque divulga os resultados do quarto trimestre de 2021 na próxima segunda-feira (14). Mas a Folha apurou que a companhia pretende mexer no preço das tarifas ainda este mês, uma vez que considera “insustentável” operar nos atuais patamares da cotação do petróleo. E acredita que isso deve impactar a demanda.
Procurada, a Azul confirmou que a alta do petróleo deve afetar as tarifas aéreas ainda este mês. Por meio da sua assessoria de imprensa, a empresa argumentou que o impacto do conflito sobre o preço do petróleo também afetou fortemente o QAV (querosene de aviação).
Segundo a Azul, a situação atual é bem pior do que há 14 anos, quando o valor do barril do petróleo já tenha ultrapassado este patamar. “Naquela época o valor do dólar estava muito abaixo dos atuais R$ 5 era cotado abaixo de R$ 2. Essa matemática é bastante impactante para o setor aéreo, em especial para as empresas brasileiras, que têm diversos custos em dólar e um dos combustíveis mais caros do mundo”, afirmou, em nota.
Por Folha de S. Paulo