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Candidatura única em 2022 com PSDB, DEM e PDT esbarra em alianças regionais

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Além de divergências no campo ideológico e na agenda econômica, uma possível candidatura única com a união dos presidenciáveis de PSDB, DEM e PDT também enfrentará entraves na construção de palanques regionais.

Das 27 unidades da federação, DEM, PSDB e PDT estão no mesmo campo político em apenas oito estados. Levando em conta apenas os dez mais populosos do país, há chance clara de convergência em 2022 apenas na Bahia e no Ceará.

A possibilidade de uma candidatura única veio à tona dias atrás, após um manifesto em defesa da democracia assinado pelos presidenciáveis João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Luciano Huck (sem partido) e João Amoêdo (Novo).

Se considerado o espectro ideológico, esse grupo que assina o manifesto vai da centro-esquerda (Ciro) a eleitores declarados de Jair Bolsonaro no segundo turno de 2018, casos de Doria, Leite e Amoêdo, incluindo ainda um ex-integrante do atual governo (Mandetta), todos hoje na oposição ao governo federal.

Essa coalizão foi vista por pessoas ligadas ao grupo como embrião de uma possível união para a corrida presidencial. A avaliação é que, juntos, esses partidos terão chances de chegar ao segundo turno contra o ex-presidente Lula (PT) ou contra o presidente Bolsonaro (sem partido). “É difícil falar em consenso, mas vamos trabalhar por uma convergência. Não há outra opção: ou centro se une ou ele se pulveriza e desaparece”, afirma o deputado federal Efraim Filho (PB), líder do DEM na Câmara dos Deputados.

Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi afirma que a carta aponta para uma aproximação de opostos, mas afirma que ainda é prematuro falar em uma possível aliança eleitoral. O PSDB, pr sua vez, tem atuado para isolar os bolsonaristas do partido e buscado pontes com a centro-esquerda.

Maiores partidos que assinaram a carta pela democracia, PSDB, DEM e PDT fazem parte da base aliada dos governadores de Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Espírito Santo, Amapá e Acre.

Em Alagoas, os três partidos estão na oposição ao governador Renan Filho (MDB), enquanto na Bahia há um movimento de aproximação do PDT com o grupo liderado pelo ex-prefeito ACM Neto (DEM), sinalizando para um rompimento com o governador Rui Costa (PT).

Por outro lado, as chances de uma aliança local são mínimas na maioria dos estados mais populosos do país. No Rio Grande do Sul, por exemplo, base eleitoral do tucano Eduardo Leite, DEM e PDT tendem a tomar caminhos distintos ao dos tucanos.

A base aliada do governador disputará a sucessão ancorada por uma frente formada por PSDB, MDB e PTB. O principal nome que desponta no grupo é o do deputado federal Alceu Moreira (MDB).

O DEM faz parte da base de Leite, mas tem uma relação de altos e baixos com o governador tucano. O partido chegou a ter o filho do ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria Geral), Rodrigo Lorenzoni, como secretário estadual de Turismo da gestão Leite.

Em março deste ano, contudo, ele trocou a secretaria estadual pela mesma pasta na prefeitura de Porto Alegre. Empossado no início do ano, o prefeito Sebastião Melo (MDB) foi eleito com um discurso alinhado ao bolsonarismo.

Onyx Lorenzoni planeja disputar o governo do estado em 2022 com o apoio de Bolsonaro, mas a tendência é que ele apoie o senador Luiz Carlos Heinze (PP), nome com fortes ligações com o agronegócio.

O PDT, por sua vez, faz parte da oposição a Leite desde o início da gestão e tem planos de disputar o Palácio Piratini no próximo ano. O nome mais cotado é o do presidente do Grêmio, Romildo Bolzan.

Em São Paulo, PSDB e DEM são aliados, mas a parceria pode implodir em caso de migração do vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) para o PSDB. O plano dos tucanos é que Garcia dispute o governo do estado, caso João Doria seja candidato ao Planalto.

O PDT, que tem pouco peso eleitoral em São Paulo, faz parte da oposição a Doria e deve se manter no mesmo campo.

Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, PSDB e PDT também estão em campos opostos, mas na condição de coadjuvantes.

Os tucanos fazem parte da base aliada do governador Romeu Zema (Novo) e ocupam a liderança do governo na Assembleia Legislativa. O PDT faz oposição ao governador e deve apoiar possível candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ao governo do estado.

O DEM tem uma posição de independência em relação a Zema, mas se aproximou de Kalil após o prefeito de BH articular o apoio do PSD ao senador Rodrigo Pacheco (DEM) na disputa pela presidência do Senado.

No Rio de Janeiro, o quadro é de incerteza em meio ao processo de impeachment do governador afastado Wilson Witzel (PSC). O governador em exercício Claudio Castro (PSC), que deve disputar a reeleição, já sinalizou seu apoio ao presidente Bolsonaro em 2022.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) defendeu a formação de uma frente de oposição a Castro e Bolsonaro que inclua até adversários como o prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM). A ideia, contudo, enfrenta resistências no PSOL.

DEM e PSDB, que têm algumas pontes com Castro, tendem a construir uma candidatura de oposição. Um dos nomes cotados pelo PSDB é o do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.

No caso específico do PDT, além de entraves para alianças regionais com DEM e o PSDB, também há um afastamento de antigos aliados como o PT.

O PDT apoia o PT no Ceará, no Piauí e na Bahia, mas há incerteza quanto à manutenção dessas alianças no próximo ano. Os pedetistas governam o Amapá, estado em que o PT não possui deputados estaduais nem federais.

A possibilidade de reaproximação de PT e PDT voltou a ser aventada após Ciro Gomes afirmar que o ex-presidente Lula deveria ter generosidade e se espelhar no exemplo de Cristina Kirchner. A ex-presidente argentina concorreu em 2019 como vice-presidente na chapa liderada por Alberto Fernández.

A ideia foi rechaçada por petistas e até mesmo dentro do PDT a aliança é vista como improvável. Há cerca de um mês, Ciro afirmou à Folha que sua tarefa é derrotar o PT no primeiro turno.

Com isso, restaria ao PDT compor com partidos aliados da centro-esquerda ou apostar na composição com o campo conservador, buscando repetir os passos de Lula em 2002.

Entre líderes de DEM, PSDB e PDT, a avaliação é que o ano de 2021 servirá para aparar arestas, afunilar o número de pré-candidatos e mirar na unidade. A equação que, já não é simples, se tornaria ainda mais complicada em caso de adesão de outros partidos a uma candidatura única de centro.

Legendas como MDB e PSD, por exemplo, têm as suas especificidades nos estados que incluem parcerias locais com partidos de diferentes espectros ideológicos.

O MDB, por exemplo, tende a se aproximar do PT em estados do Nordeste como Alagoas e Ceará. Por outro lado, está mais próximo a Bolsonaro em estados do Norte como Tocantins e Acre.

O PSD, por sua vez, deve firmar aliança com Lula na Bahia, apoiar Bolsonaro no Rio Grande do Norte e pode caminhar com Ciro Gomes em Minas Gerais.

Na avaliação de Carlos Lupi, presidente do PDT, as divergências nos estados não devem ser um entrave para uma composição da sigla com partidos da centro-direita no plano nacional. “Um bom palanque nacional pode puxar para cima o palanque local, mas o contrário dificilmente acontece. E sempre há a possibilidade de palanques duplos ou de neutralidade”, afirma.

Por Folhapress

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