Uma ala do PRTB, partido de Pablo Marçal, desconfia que o influenciador não pretende ser prefeito da capital e vai fazer de tudo para ter a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.
A suspeita, ventilada desde o início da campanha por integrantes da executiva nacional da sigla, é que Marçal tenha entrado na corrida eleitoral para se tornar ainda mais conhecido nas redes sociais, ganhar mais dinheiro e, eventualmente, se cacifar para uma disputa maior em 2026, no caso, a Presidência da República.
Essa hipótese ganhou força entre integrantes desse grupo após a publicação de um laudo médico falso acusando Guilherme Boulos (PSol) de usar cocaína, feita por Marçal na noite dessa sexta-feira (4/10) em seu perfil no Instagram.
Horas depois, a Justiça Eleitoral derrubou a postagem sob suspeita de promover “conteúdo difamatório” sem provas e, neste sábado (5/10), determinou que o perfil de Marçal fosse derrubado.
Um integrante da executiva nacional do PRTB ouvido pelo Metrópoles sob reserva diz que o receituário médico apresentado por Marçal foi “ridículo” e que, “provavelmente”, vai dar origem a um “processo criminal pesado”.
A avaliação é a de que o candidato não precisava da publicação para chegar ao segundo turno e que, mesmo avançando para a próxima etapa do pleito, seria difícil sustentar a mentira por três semanas.
“Com esse receituário, Marçal só perde votos, não ganha”, afirma o dirigente do PRTB.
Segundo membros da cúpula do partido, Marçal pode ter usado a campanha eleitoral para “furar a bolha” das redes sociais, atingindo um público mais velho e pessoas que não o acompanhavam na internet, o que poderia render futuros consumidores de seus cursos.
Durante a campanha, o próprio candidato afirmou que, para se tornar conhecido, “foi preciso ser rejeitado”. “Peço desculpas se, para chegar onde cheguei nas pesquisas hoje, eu tive que chamar a atenção de um jeito que não te agradou”, disse ele em entrevista à TV Record, ainda no fim de agosto.
Para dirigentes do PRTB, se Marçal realmente pretende ter a candidatura cassada, como suspeitam, ele deve continuar a tensionar a relação com a Justiça e cometer crimes eleitorais, caso avance para o segundo turno.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (5/10), ele aparece numericamente empatado com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) — ambos 26% dos votos válidos — e tecnicamente empatado com Boulos, que tem 29%.
Em entrevista coletiva na tarde deste sábado, antes de ter o perfil no Instagram suspenso pela Justiça Eleitoral, Marçal admitiu que é amigo do dono da clínica associada ao laudo, mas disse que não tem “nenhuma ligação” com o receituário falso com a assinatura de um médico já falecido e publicado em seu Instagram.
Peritos do Instituto de Criminalística da Secretaria da Segurança Pública atestaram que assinatura é falsa. Segundo o documento falsificado, Boulos teria sido internado por consumo de cocaína em uma clínica no Jabaquara, zona sul da capital, em janeiro de 2021.
O candidato do PSol afirmou que o laudo é mentiroso e pediu à Justiça Eleitoral a prisão de Marçal e do dono da clínica, mas o pedido foi indeferido pelo juiz Rodrigo Capez, que apenas determinou a remoção do post e depois a derrubada do Instagram de Marçal.
“Não fui eu que dei o laudo, só publiquei. […] Tem que checar com meu advogado, ele que recebeu”, afirmou o candidato em entrevista coletiva em frente à Estação Itaquera do Metrô, na zona leste.
Após ter a rede social suspensa, Marçal disse ter sido “censurado” pela Justiça Eleitoral. No fim de agosto, ele já havia tido suas redes sociais suspensas por suspeita de promover “campeonatos de cortes” entre seus seguidores, prometendo pagamento em dinheiro para quem divulgasse sua imagem e obtivesse o maior número de visualizações durante a campanha, com recursos não contabilizados. Ele nega.
Por Metrópoles