Lula foi eleito por pequena margem em 2022 empurrado por uma frente ampla e esgrimindo o lema da “pacificação”. No ano passado, levou ao ar uma campanha publicitária cujo slogan era “um Brasil e um só povo”. Na entrevista exibida pelo SBT na noite de segunda-feira, Lula rasgou o que restava do figurino de pacificador e pulverizou a imagem do país idílico e despolarizado da propaganda oficial.
Um ano e três meses depois da posse, Lula agora soa como um cultor da divisão política: “A polarização é boa se a gente souber trabalhar os neutros para que a gente possa criar maioria e governar o Brasil.” O que o presidente afirmou, com outras palavras, foi mais ou menos o seguinte: “Trabalho apenas com convertidos da esquerda e neutros do centro. Desisti de governar para a direita.”
Ao trocar seu raciocínio em miúdos, Lula acrescentou: “Eu não me preocupo com a polarização porque o Brasil foi polarizado entre PSDB e PT durante muito tempo.” Comparar os adversários de outrora com os inimigos de hoje é um negacionismo político a serviço da politicagem.
Quando perdeu a eleição, Fernando Henrique Cardoso parabenizou Lula, presenteou-o com uma transição de mostruário, passou-lhe a faixa e foi para casa. Bolsonaro sonegou ao país o reconhecimento da derrota, tramou uma virada de mesa, estimulou o acampamento que pedia intervenção militar na frente do QG do Exército e foi assistir desde a Flórida à intentona de 8 de janeiro.
Na era da polarização PSDB X PT, o bico mais afiado da oposição no Congresso era o de Tasso Jeressati, um oposicionista de punhos de renda. Hoje, Lula rala uma oposição protagonizada por gente como Nikolas Ferreira, um guerrilheiro de redes sociais. Ao insinuar que uma coisa se assemelha à outra, Lula confunde tucano com porco-espinho. Bolsonaro agradece.
Por Josias de Souza, UOL