A relação entre o governo federal e o comando do Congresso vive seu momento mais tenso do ano. A ausência dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na cerimônia de sanção da isenção do Imposto de Renda, na quarta-feira (26), escancarou o distanciamento. A rusga coloca em risco temas centrais para o Planalto, como o Orçamento de 2026, a PEC da Segurança Pública e a aprovação de Jorge Messias para o STF, que podem virar derrotas expressivas para o presidente Lula (PT).
O clima azedou a ponto de a prisão de Jair Bolsonaro (PL) ter perdido espaço no radar do Congresso. A direita reagiu apenas de forma protocolar, e o debate sobre uma eventual anistia ficou restrito a conversas de bastidores. A tensão ganhou novos capítulos com a movimentação de Alcolumbre para minar a indicação de Messias ao Supremo e a aprovação, pelo Senado, do projeto que cria aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde — proposta de forte impacto fiscal e interpretada como recado direto ao governo.
Na Câmara, Hugo Motta também se afastou do Planalto após troca de farpas públicas com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), motivada pela escolha de Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do projeto antifação. Petistas afirmam que Motta tentou separar o desgaste pessoal da relação institucional, mas admitiram que o presidente da Casa reclama de acordos descumpridos, atrasos na liberação de emendas e falta de avanços em nomeações prometidas a aliados.
A crise ainda pode travar votações fundamentais, como o corte de R$ 20 bilhões em subsídios e a MP que estimula a instalação de data centers. A interlocução com Fernando Haddad, que já foi vista como estável, também entrou na mira de deputados. No Planalto, auxiliares de Lula reconhecem o mau humor do Congresso, mas insistem que, apesar dos atritos políticos, a relação institucional entre os Poderes não deveria ser contaminada pelo embate.
Por Folha de S.Paulo











