Uma pesquisa de opinião pública feita pelo Instituto MDA e divulgada no início deste mês pela Confederação Nacional do Transporte detectou, no bloco de perguntas sobre educação, uma relevante mudança na percepção dos pais sobre a volta às aulas. Ao contrário do que as pesquisas até então indicavam, desta vez a maioria dos brasileiros com filho em idade escolar disse sentir que o retorno ao presencial já era seguro, ainda que com graus diferentes de entendimento sobre como isso deveria acontecer.
Ao considerarem o avanço da vacinação pelo país, 41% dos pais afirmaram que o retorno é seguro, mas deveria ser feito “por etapas e com medidas de restrição sanitárias”, enquanto outros 18% já entendem que isso poderia acontecer de forma “imediata e ampla”. Os que afirmam que a volta ao presencial ainda não é segura e não deveria acontecer representam 36%, um percentual hoje minoritário, mas não desprezível.
Decisões importantes sobre políticas públicas não podem ser tomadas apenas com base em pesquisas de opinião. Mas a resistência da maioria dos pais ao retorno foi no ano passado um fator relevante – certamente não o único – a inviabilizar o retorno ao presencial, mesmo nas poucas redes que tentaram induzir esse movimento.
Além da ampliação da vacinação entre professores e na população adulta em geral, certamente contribuiu para essa mudança de opinião a percepção negativa do resultado das aulas remotas. A mesma pesquisa mostrou que, para 80% dos pais, o aprendizado durante a pandemia foi “pior do que quando era presencial”. Nem sempre acontece, mas este é um caso em que infelizmente a percepção das famílias é confirmada pelas poucas pesquisas que já mensuraram o impacto da pandemia.
Outra expectativa negativa que vem sendo confirmada por pesquisas é o agravamento da desigualdade. Pesquisa DataFolha realizada em maio mostrou também que o grupo de estudantes em risco chegou a 40% neste ano, percentual que era de 23% no mesmo período do ano passado. Foram considerados em risco aqueles alunos que afirmaram não estarem evoluindo na aprendizagem e reportaram desmotivação, dificuldade de manter a rotina e medo de desistir. Entre famílias mais ricas, a proporção cai para 9%. Entre as mais pobres, chega a 48%.
Mesmo que extremamente preocupantes, nenhum desses dados infelizmente chega a surpreender. Já sabíamos que o fechamento presencial das escolas traria efeitos negativos, mas por muito tempo pais e professores, não sem razão, se sentiam inseguros.
O apoio agora majoritário dos pais ao retorno às aulas presenciais, obviamente, não deve ser lido como um salvo-conduto para a volta a qualquer custo. O fato de a maior parte dos familiares ter sinalizado a defesa da volta “por etapas e com medidas de restrições sanitárias” mostra que resgatar a confiança dos responsáveis, alunos e profissionais da educação continuará sendo parte fundamental do necessário esforço para o retorno às aulas.
Por Antônio Gois – O Globo