Apesar de ser uma condição identificada na maioria das vezes ainda na infância, o autismo vem sendo diagnosticado com cada vez mais frequência em adultos. O TEA (Transtorno do Espectro Autista) apresenta vários graus, e sua identificação pode passar despercebida se não for dada a devida atenção.
Sem diagnóstico determinado nem o amparo e a estrutura necessários para viver melhor com a condição, pessoas dentro do espectro passam anos e até décadas lutando contra algo que não sabem o que é, sentindo-se deslocados e “diferentes”, mas sem nenhuma explicação.
O que pode levar a um diagnóstico tardio?
A falta de acesso a informações e ao sistema de saúde, e a falta de condições emocionais ou financeiras dos pais são as causas mais comuns do diagnóstico tardio. A resistência ao diagnóstico e o estigma em torno de condições neurodivergentes também impedem que algumas crianças sejam examinadas e diagnosticadas.
A maioria dos diagnósticos tardios é relacionada a casos leves de autismo, de pessoas que não apresentam deficiência intelectual e conseguem levar uma vida autônoma, funcional e independente. Esses indivíduos muitas vezes “disfarçam” e lidam bem com a condição, e só vão procurar ajuda quando alguém lhes questiona os poucos amigos, seu jeito direto de falar ou sua pouca habilidade social.
Indícios de que a pessoa está no espectro autista:
1 – Dificuldade em reconhecer e identificar emoções e sentimentos;
2 – Dificuldades no trato social, na socialização;
3 – Prejuízo na compreensão de dicas sociais, como déficit na utilização de sinais verbais e não verbais, com dificuldade para compreender aquilo que é dito de forma não explícita;
4 – O autismo em adultos muitas vezes vem acompanhado de comorbidades que também podem apontar ao diagnóstico. Elas podem ser psíquicas, como ansiedade, depressão, TDAH, TOC, comportamentos de irritabilidade e desregulação emocional, ou fisiológicas, como distúrbios gastrointestinais, distúrbios do sono, epilepsia e problemas motores;
5 – Hiperfoco no trabalho;
6 – Dificuldades com mudanças de rotina;
7 – Sensorialidade exacerbada (como alta intolerância a ruídos).
Como é feito o diagnóstico?
Tanto na infância quanto na vida adulta os sinais e sintomas avaliados para investigar um caso de autismo são os mesmos, o que muda é o processo usado para chegar ao diagnóstico.
Vários fatores são levados em consideração, como indicadores genéticos, dados do neurodesenvolvimento, comportamento e o funcionamento das habilidades sociais, emocionais e cognitivas.
Normalmente, o processo inclui entrevistas intensivas, consultas com diferentes especialistas médicos, como psiquiatras e neurologistas, avaliação neuropsicológica e o uso de escalas padronizadas que ajudam a situar o paciente no espectro.
Entre os exames que podem ser solicitados estão uma investigação genética, auditiva e eletroencefalográfica — tanto para o diagnóstico diferencial quanto para investigar a presença de comorbidades.
Relatórios da fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia e terapia ocupacional trazem mais informações ao parecer inicial.
Uma grande dificuldade do diagnóstico na idade adulta é recuperar marcos infantis do desenvolvimento dos quais a pessoa não se lembra, não sabe ou não tem mais membros da família que possam lembrar. O adulto que não sabe que se enquadra no espectro já entendeu como camuflar sua condição e encontrou jeitos de se encaixar no convívio social de maneira a minimizar seus sintomas.
A comunicação não é o forte das pessoas no espectro, por isso depender delas para contar a própria história pode ser um desafio.
Se o paciente for diagnosticado, ele é encaminhado para profissionais que poderão ajudá-lo a trabalhar melhor as limitações que ele apresenta. Sem o auxílio adequado, essas limitações tendem a se enrijecer, o que significa que a melhora dos sintomas pode demorar mais em adultos.
Por que é importante diagnosticar
Sem o diagnóstico de autismo e a estrutura adequada, a pessoa acumula prejuízos sociais e acadêmicos que podem desencadear outros transtornos. Não são incomuns sintomas de ansiedade e depressão por se perceber diferente ou sofrer bullying dos colegas.
Muitas vezes, o diagnóstico fecha um longo ciclo de incompreensão acerca da própria existência.
Além disso, devido aos sintomas não explicados e às comorbidades que muitas vezes aparecem, a pessoa pode ser tratada com terapias e intervenções que não são as mais adequadas e podem até ter efeitos nocivos.
Quando a pessoa descobre que é autista, ela se conhece melhor e passa a entender as limitações com as quais vem lidando. Dar um nome à condição também facilita o acesso a informações e propicia a inclusão da pessoa em um grupo, onde ela encontra seus similares e conversa com outras pessoas que vivem como ela. Por isso o diagnóstico tardio costuma ser libertador e trazer autoconhecimento.
Por UOL